A primeira ficção que escrevi foi em 2009. Eu sempre tive muita imaginação e sonhar acordada é o meu hobby favorito, mas nunca tinha colocado aquelas histórias no papel. Até aquele ano, elas pertenciam ao fantástico mundo das minhas realidades alternativas imaginárias.
2009 foi um ano transformador. Eu estava em um longo relacionamento no qual já não tinha certeza se era o que queria para mim, contava os dias para o meu intercâmbio em Los Angeles, tinha quase certeza que não queria continuar na faculdade de Direito e não tinha a mínima ideia do que seria da minha vida se abandonasse tudo e partisse para outra. Eu estava com medo, assustada com as possibilidades e minha única certeza era que a minha vida tinha se tornado insuportável - exceto pela viagem que prometia as férias que minha cabeça e meu coração tanto precisavam.
Foi nesse contexto que comecei meu primeiro blog. De início, a ideia era escrever sobre as mudanças que estavam acontecendo mais rápido do que podia dar conta e sobre a viagem tão esperada. Com medo dos loucos da internet - e também com medo que amigos e conhecidos fossem encontrar o meu blog -, optei pelo anonimato e alterei alguns fatos para garantir que minha identidade permanecesse escondida. Assim, nunca falei meu nome, onde morava nem para onde estava prestes a viajar. Eu escrevia no formato de diário, mas sem detalhes da minha vida pessoal que poderiam me identificar. Eu até alterava a descrição de alguns acontecimentos para não dar sorte ao azar.
Nessa mesma época, tinha voltado a ler com frequência. E graças ao sucesso de Crepúsculo e do lançamento do novo filme de uma das minhas franquias favoritas, Anjos da Noite, minha imaginação estava inundada por vampiros e lobisomens (ou lycans). Então, certo dia, entediada numa aula de Direito Civil, comecei a imaginar como seria a minha vida se vampiros e lobisomens fossem reais, e como seria fazer parte desse mundo como uma dessas criaturas. Naquela noite, talvez por ter alimentado excessivamente esse pensamento por horas a fio, tive um sono agitado e que foi interrompido quando um morcego bateu violentamente na minha janela. Ainda sonolenta, com um pé no sonho e outro na realidade, meu coração acelerado pelo susto se perguntou se alguma criatura assassina estava no meu quarto. No dia seguinte, com a imaginação em fervorosa, comecei a escrever uma história inspirada naquele evento, misturando fantasia com realidade, e compartilhando essa aventura com o meu pequeno grupo de leitores cibernéticos.
Foi um sucesso. Pequeno, mas um sucesso. Logo, aquela história atraiu muitos curiosos que não sabiam ao certo se o suspense era real ou se em breve eu revelaria que tudo não passava de ficção. Quando finalmente introduzi o elemento fantástico, apresentando um dos vampiros, meu blog conquistou ainda mais leitores.
Entretida com o que estava fazendo, o segundo semestre da faculdade passou sem que eu percebesse e logo estava fazendo as malas para Los Angeles. Meu blog, e por consequência minha história, deixariam de ser atualizados assim que a minha vida se tornou, de fato, mais interessante que a fantasia. E como na época eu não cogitava uma carreira literária, abandonei o projeto sem drama e sem sofrimento. Foi bom enquanto durou, agora vida que segue.
Seis anos depois eu voltaria a escrever.